Trata-se de uma exposição fotográfica com imagens coletadas ao longo da pesquisa “Interação em Movimento: Práticas e Sociabilidades Juvenis nos Transportes Universitários da Região Norte do Ceará” que vem sendo desenvolvida desde 2009, com apoio dos Programas de Iniciação Científica da FUNCAP e do CNPq. A pesquisa toma como campo empírico os ônibus que transportam diariamente os estudantes de diversos municípios até Sobral para freqüentar a universidade e tem por objetivo verificar as práticas e as sociabilidades constituídas nesses espaços para compreender de que modo elas conferem sentido ao ser estudante universitário. Analisando os transportes como “lugares antropológicos”, palcos de uma infinidade de práticas e processos interativos e identitários para os jovens que deles se utilizam, apresentamos um relato imagético das práticas mapeadas por nós até o momento. As fotos expostas foram tiradas nos ônibus universitários dos municípios de Marco, Irauçuba, Itapajé, São Benedito e Hidrolândia.
O desejo de alargar as oportunidades no mercado de trabalho através da obtenção de um diploma de nível superior é o que move os jovens de diversos municípios da Região Norte do Ceará a se deslocarem até Sobral. O deslocamento espacial, mesmo que temporário, implica um deslocamento social e cultural, na medida em que o ir e vir cotidiano são perpassados por agenciamentos que conferem singularidade à experiência de freqüentar a universidade.
A relação com o espaço do ônibus e com as pessoas com quem se partilha a viagem impulsionam experiências de si. Assim, a materialidade do transporte e as interações que nele se criam marcam de diversas formas e em diferentes graus a vida dos universitários que neles viajam, diferenciando-os dos estudantes que não vivem essa experiência e imprimindo significados outros ao ser universitário. Tais significados são tecidos na luta pela conquista do direito ao transporte, nos riscos e nas inúmeras práticas, conflitos e interações que acompanham o percurso.
Iniciada a viagem, o espaço do ônibus, dependo do tempo de duração do trajeto, transforma-se no palco de uma infinidade de práticas e formas de interação. Aproveitar o tempo da viagem, embora em um ambiente adverso, é a ordem. E isso é feito de muitas formas: tem gente que aproveita o percurso para colocar as leituras acadêmicas em dia, os que trabalham aproveitam para descansar da jornada de trabalho antes de enfrentar a jornada de estudos, os mais religiosos rezam o terço a partir das 18h (hora da Ave Maria, na tradição católica), os casais, muitos dos quais se conheceram ao longo das viagens, aproveitam para namorar. Ouvir música (geralmente em aparelho de MP3), assistir filme em um notebook, comer, conversar com os amigos, namorar, jogar, rezar, fazer festas de confraternização, comercializar produtos diversos, são outras práticas observadas.
Assim, os ônibus universitários, dependendo da duração do percurso (até 3 horas de viagem) entre a cidade de origem e Sobral, passam a ser não apenas um meio de transporte, mas espaços onde tomam lugar o lazer, o debate, os estudos, o descanso, as amizades, os namoros, o comércio e as manifestações de fé. No trajeto, os estudantes inventam formas de passar o tempo e criam modos de organização para melhor conduzir a convivência que dura o tempo do curso superior que freqüentam, dessa forma, conferem sentido ao ser jovem universitário.
Desse modo, as práticas e formas de sociabilidades estabelecidas nesses espaços transformam em lugar (identitário, relacional e histórico) o meio de transporte que, de acordo com Marc Augé (1994), poderia ser um exemplo de não-lugar, ou seja, ponto de passagem, destinado à individualidade solitária, ao provisório, ao efêmero e, por isso mesmo, desprovido de todas as referências que caracterizariam os lugares.
